Exposição (arte)
"As casas ocupam provisoriamente pedaços de terra que, temporariamente, sobre ela depositam o seu peso. Assim, ali pousadas, alteram a respiração dos humos, impedem que toda a espécie de sementes possa germinar, negam às gotas de água aquele pedaço de chão para a sua viagem de retorno e furtam a navegação da luz condenando-a a prisioneira das paredes e a ferozes fugas pelas suas aberturas.
As casas nascem brilhantes e sólidas, cheias de futuro e generoso conforto, albergam vidas que nelas respiraram o tempo e as ocupam com objetos que confortam o corpo, os sentidos, e traduzem as emoções. As casas são local de clausura, galáxia do universo de quem as habita.
Um dia desabitadas, nuas por dentro e, assim despidas, ficam simplesmente à espera de deixarem de ser abrigo de nada.
Uma casa de meia-idade com certeza que ambiciona deixar de ser abrigo de nada.
Uns olham para ela como desejo de modelar os seus espaços de modo a que fiquem capazes de engolir toda a luz que possa traduzir os seus vazios numa escultura habitável prometedora de conforto e intimidade. Chamamos-lhes arquitetos.
Num tempo de espera, outros foram chamados a refletir sobre a casa de meia-idade que ambiciona deixar de ser abrigo de nada. Artificies com desejo de a perscrutar ou de a confortar com outras formas de nela se abrigarem. Chamamos-lhes artistas.
Alguns são ambas as coisas.
Ainda, a esta casa de meia-idade, também aportaram frases de um livro, cuja autora dele retirou palavras a que deu espessura e que aqui podem ser escutadas poisadas no soalho.
Efémera será esta ocupação mas em experiência terá traduções diversas que perdurarão em pensamentos e neles se cruzarão procuras e talvez “depois vemos melhor”. " Isabel Silva













